16 junho 2015
21 março 2015
(Des)vincular
Daqui espero
Daqui vejo
Daqui agonizo.
Há muito foi o
tempo
da carne
plantada no solo,
que apodrecida,
engordou os bichos
soltos e aterrados,
e do sepulcro
desvaneceu
em caldo de
péssimo odor.
Ficou a lembrança,
maldito
suplício,
novo óbito,
que emergida como ar
sufoca
até hoje,
como melancia na
garganta,
e não permite
a vida continuar.
07 fevereiro 2015
05 outubro 2014
Porta
Talvez não saiba
que a porta que hesita bater
é a mesma
que na face oposta
há outra alma
que espera,
com ânsia,
ofego,
euforia,
resignação,
a outra,
que emancipe,
dê-lhe alforria,
e resgate
o mais arraigado,
seguro e
íntimo
desejo
de possuir
e ser
arrebatado.
01 agosto 2014
01 maio 2014
Fetiche
Qual exclusiva noite
para fatigar a lascívia.
(Cronometro ligado)
Diana Krall presente
no tom mais gracioso
que a eletrônica permitia.
Cheiro das velas
(muitas velas)
inebriava o ar
de tênue a vaporoso.
Sapato vermelho,
de salto alto,
impunha o tom,
passo a passo,
de chegada
e inicio
da apreensão
(suor na testa ruborizada).
Na visão
a lingerie
mais sublime
(e transparente)
que se possa imaginar,
e que contentava
aquele gosto
encapetado.
Meia luz,
ou luz nenhuma,
que dilatavam as pupilas,
na vontade de ver (muito) mais
que consentido
(ou o que seria desvendado,
daqui a pouco,
pouco a pouco).
De saliva estiada
a voz,
quase nada,
era rouca.
Na face
(batom, sombra, cílios delineados,
e um discreto gliter na pálpebra)
tudo clássico,
muito “Pin Up”.
Com movimentos lentos,
Uma dança foi estabelecida.
Tudo supremo...
Do
toque do relógio queria mais
(muito
mais!),
queria
um ser sobrenatural,
que parasse
aquele tempo,
e o fizesse
infindo.
01 abril 2014
"Ctrl+C"
Boca na boca,
para não repetir inverdades
das experiências envelhecidas,
caducas,
mal vividas.
Que seja um tempo novo,
das teclas “Ctrl+C”
quebradas.
Fale-me algo
inédito,
como
o sonho da diva,
o medo da noite,
o desejo de servir no vôo,
o temor da gestação,
a ânsia esquecida do corpo.
Agora,
deixar de saborear,
pelo azedume anterior:
não!
Aproveite...
Destrua a agenda,
exclua perfis no facebook.
O tempo é outro,
eu sou outro:
caráter,
psique,
alma,
coração,
torso.
Sou
uma nova
e verdadeira
miração.
miração.
02 março 2014
Transparência
Pela janela,
a luz,
nada contida
por panos
e babados,
esquentou
dois corpos,
que enroscados,
reagiam,
desnudos,
sudoreicos
e energicamente,
a uma
resposta
hormonal.
E revelou,
para todo
arredor,
um
ato,
até então,
improvável
para
aquele
local!
01 março 2014
Viagem
para algum lugar,
muito longe daqui.
Um lugar onde sinta odor,
sem que meu faro sofra com
tantos maus perfumes.
Onde o tempo seja cromático,
a despeito da pulsação incolor.
Onde tudo pare,
dentro de tamanha inquietação.
Pode ser na esquina,
na lembrança,
na militância,
na preguiça,
na espera do aeroporto,
na ausculta de cantos melancólicos
ou na torcida dos guerreiros.
Seja no próximo segundo,
no minuto seguinte,
ou dez anos após.
Creia,
acredite,
tenha fé:
eu só não quero ficar aqui.
07 fevereiro 2014
Orfeu da Conceição

Um dos trechos mais bonitos da peça "Orfeu da Conceição" de Vinicius de Moraes, tem inicio quando Eurídice lhe diz "Até, neguinho. Volto num instante". Orfeu tem um mau presságio, e pede à amada que não o deixe. Eurídice responde: "Meu neguinho, que bobagem! É um instantinho só. Volto com a aragem..."E o texto segue adiante assim...
"Orfeu:
Ai, que agonia que você me deu
Meu amor! que impressão, que pesadelo!
Como se eu te estivesse vendo morta
Longe como uma morta...
Meu amor! que impressão, que pesadelo!
Como se eu te estivesse vendo morta
Longe como uma morta...
Eurídice:
Morta eu estou.
Morta de amor, eu estou; morta e enterrada
Com cruz por cima e tudo!
Morta eu estou.
Morta de amor, eu estou; morta e enterrada
Com cruz por cima e tudo!
Orfeu (sorrindo):
Namorada!
Vai bem depressa. Deus te leve. Aqui
Ficam os meus restos a esperar por ti
Que dás vida!
Namorada!
Vai bem depressa. Deus te leve. Aqui
Ficam os meus restos a esperar por ti
Que dás vida!
(Eurídice atira-lhe um beijo e sai).
Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
E' mais porque te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, - que é que eu sei! essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem - nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! e me dizes essas coisas
Que me dão essa fôrça, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! criatura! quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que êle, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que eu estarei contigo!"
É lindo ver Bethania recitar!!!!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
E' mais porque te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, - que é que eu sei! essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem - nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! e me dizes essas coisas
Que me dão essa fôrça, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! criatura! quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que êle, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que eu estarei contigo!"
15 janeiro 2014
Tormenta
Calmo,
agora o mar está!
Na tempestade
jogou peixe para fora,
fez barco virar e
Ninfas andarem.
Tive medo,
mas se eu não estivesse
lá imerso
na escuridão,
não aprenderia
que é a boia
que te faz boiar
e o nariz para fora,
respirar.
14 dezembro 2013
Dependência...
Sua nudez
alarga meu encanto
pelo simplório frugal
e dificulta
enjeitar
o vicio pelas coisas simples.
02 novembro 2013
Que coisa!
Deixo
o orgulho de lado,
deito
quieto,
pouco
humilhado,
infeliz.
Cedeu
minha esperança.
Estava
elétrico,
(sabe
disso!)
desejoso,
urrando
de sede,
esfomeado,
faminto,
famélico.
-
Mas ainda é tão cedo?
(na noite nada é tarde para nutrir o desejo).
Se
havia algo errado, não sei?
Agora
discreta,
sussurrou no meu ouvido
(lembra um gemido).
- Bandida!!!
Enganou-me!
Iludiu-me!
Bendita artificiosa,
manhosa,
arteira.
Sussurra mais uma vez,
e confirma:
-eu quero!
Agora?
Vontade
de pular dali correndo.
Escapulir,
esgueirar,
matar-te.
Mas
se era justamente o que queria?!
(precisamente!).
Vou espalhar aos sete ventos
que és uma enganadora,
uma burlesca.
Quis
matar um desejo!
Por que falou antes
“hoje
não”?
01 outubro 2013
Vidente
Coraçãozinho,
espedaçado,
espedaçado,
esfarelado,
palpita,
lateja,
titila,
agita:
palpita,
lateja,
titila,
agita:
anda
pressentindo
que uma coisa boa
vai acontecer!
pressentindo
que uma coisa boa
vai acontecer!
02 setembro 2013
Comunicação
teve inicio no jogo de palavras.
Poucas, sei!
Mas todas curiosas,
indiscretas,
bisbilhoteiras,
do tipo:
Quem?
Quando?
Como?
Próprias para despertar o interesse.
Próprias de uma língua oficial
de 280 milhões inquilinos.
Próprias,
que começaram abrir
o ferrolho
selado,
outrora,
sabe lá por quem?
Quando?
Onde?
Na sucessão das horas
(confesso: foram poucas!),
a transmissão racional foi distanciada.
Quem?
Quando?
Como?
Ficaram no passado.
Quem?
Quando?
Como?
Já tinham as respostas,
que aqui são improprias
apresentar.
Sonoras compreensíveis
de outrora,
passaram a simples percepção.
Gemidos,
murmúrios,
suspiros,
arfados,
hálito.
Sensações
(odor e umidade)
percebidas pelo dedo indicador
e não mais pelo ouvido médio.
Palavras?!
Para que?
Quem?
Como?
Quando?
São distantes do que Eros
criou.
01 agosto 2013
Estratégia
A definição de outra trajetória
recuperou o rumo,
abalado por embuste,
felonia
e instabilidade.
Bem de mim
que tinha na inocência,
na crença
e nos saberes,
minhas maiores qualidades.
Enfim,
tudo recuperado.
Pouco
modificado
sei,
mas
recuperado!
01 março 2012
Tempo
Definir é um desafio,
Interrogue-me e fujo desta quesito,
Não quero ver, inferir ou meditar...
É uma perene agonia!
Nem sempre as três dimensões que fundamentam sua existência contêm
sua experiência:
Passado, presente e futuro,
Por si só não o fazem concreto.
(- Se nenhuma das suas partes existe, como pode ele subsistir?)
(- Se nenhuma das suas partes existe, como pode ele subsistir?)
Quando penoso é lento,
Quando feliz, amável e prazeroso, rápido,
Quase fugaz, às vezes uma ilusão.
(- Como pode ser célere para uns e viscoso para todos?)
Só no plano divino,
Anterior a nossa criação,
Para entendimento.
(- Mas se há um planejamento superior, para que medi-lo então?)
Relativizá-lo será sempre uma tentação.
Alguns marcam com segundos, minutos, dias e primaveras.
Outros com ações:
Amores perdidos, trabalhos concluídos, filhos crescidos.
(Eu, constante emoção!)
A realidade dele só está no pensamento.
Na verdade,
Sua compreensão só é percebida no espaço e movimento,
Intervalo e animação,
Vida e viver.
Concluí-lo, jamais!
As marcas que nele imprimem,
Eternamente o farão dissemelhante.
O fato que é cíclico,
É uma sucessão de inverno, verão, férias e São João.
Um eterno reviver,
Mas sem necessariamente restituir.
Então,
Que flua,
Que se viva nele.
Que seja segundo,
Seja eterno,
Seja individual.
Seja próprio,
Exclusivo,
Irreversível.
O meu é só meu,
Cabe na minha caixinha mágica.
Na minha nave espacial.
(Transforma-me!)
Nele transfiguro,
Modifico,
Experimento.
Sou objeto e
Ação.
E graças a ele,
subsisto.