10 outubro 2010

Ócio

Tra-ba-lho não,
tempo de ruminar,
de deixar o corpo escorrer,
sem uni-for-mi-da-de
e so-fri-dão.

De lim-par os arquivos,
desfragmentar o HD,
se meter na cama,
zapear e ficar de calção.

Ir na Alemanha,
Cuba,
Petrópolis,
Tajiquistão.
E quem sabe,
lá na esquina?
Comprar A Tarde,
deitar na rede,
tangerinar,
e virar ermitão.

Tempo ímpar,
calórico,
criativo,
de te-le-fo-ne quebrado,
fora de área,
offline,
sem conexão.

08 outubro 2010

Amor dói



Amor dói,
quebra paredes construídas e erguidas,
nos anos, 
nas formas e nas estruturas.
Desentope pias,
vasos e
tubos.
Por isso, dói!

A presença divina que liberta
é a mesma que dilacera a alma,
destrava engrenagens,
espreme a casca dura,
gerando sucos
e resíduos.
Por isso, dói!

O que mitiga o mau,
angustia,
desafia conceitos,
descortina os medos,
desoprime o opressor,
revela o que não se podia revelar.
Por isso, dói!

Aquilo que me torna brando,
também afasta-me da zona de conforto,
eletriza a rede sem fio,
refaz o trabalho da criação,
bagunça a noção de tempo.
Faz uma ausência
ser insuportável.
Por isso, dói (e muito)!

Mas não quero alívio imediato desta dor
(afaste-me das emergências superlotadas
de inconstantes e frios,
gente morta e doentes).
Quero o seu desconforto,
sua desopressão,
sua veemência,
seu poder de criação.
Quero ver sangue jorrando nas veias,
coração partido,
cair em queda livre
(sem amarras e paraquedas).
Por isso, sigo amando!