29 dezembro 2009

Férias



Chegou, chegou
o tempo de brincadeira,
aquele que o sol não se põe,
aquele do banho do porto da Barra,
de umbu, siriguela, caju,
de noites de caranguejo,
cerveja gelada,
festa do ano novo,
do Senhor do Bomfim,
de dois de fevereiro,
dos shows na Concha,
de dormir na rede,
de ficar nu,
de sentir calor,
de encontrar Martim,
de sentir a brisa de Humaitá,
comer acarajé,
ver tanta gente,
de ir na Ilha de Itaparica,
dos almoços na Amaralina,
da família fácil,
de namorar dentro do mar,
de viajar com Laura,
de se misturar no Pelô,
de amar minha branca
e esquecer o tempo
de ser serio,
aquele que passou,
e ficou lá longe perdido
em uma mofada lembrança
de uma noite esfriada.

10 dezembro 2009

Desejo



Vi te vi,
de frente,
do lado da frente,
com dois roliços fogos
a te apontar.
Quis pegar,
de longe me fiz,
refiz.
Não consegui
(bem que quis).
Queria encostar,
beijar,
sepultar o ardor
(mas só sentia o odor).
Pulsações sim,
desejos superior,
vontade,
querer,
mas o negro véu do pudor,
me tomou em vão,
perdi,
e não mas vi,
o que queria ver.

02 dezembro 2009

Gozo



Uma a uma,
liquidez
que escorre
na minha cama,
junto a um braço caído,
do lado de um corpo erguido.

Gotas semi coaguladas,
simulando o processo líquido que ocorreu.

Suores, odores, secreções,
tudo é muito intenso,
e insano.

Há pouco era um ser endiabrado,
agora,
anjo
envolto em uma aura
luminosa.

(E esse olhar contento,
de possuída,
a mirar o outro,
convalescente
da euforia.)

De canto vejo o que não queria ver,
ou talvez,
o que toda minha vida quis ter.

Vi a alma de uma mulher,
registro feliz de mutação,
o corpo brando,
branco,
entregue,
seios empinados,
bicos rosas,
rabo de cavalo,
vulva recortada,
levemente decorada.

Um gemido
rompe o silêncio
da respiração ofegante.

Aqui eu não aguento,
o sangue passa,
levantando tudo que é possível levantar,
das cavernas secas,
ficaram às recordações
do último minuto.

De destruído,
sou agora um algoz guerreiro.

(Ah, esse contato!
Dizer o que?
não precisa,
quero me reintegrar ao prazer.)

E venha mais rios,
para nos afogar
de plasma seminal,
e das secreções mais cheias de sentidos
que alguém pode conceber.

07 outubro 2009

No pátio (de D. Inês)


Brincadeira de recreio de criança,
em uma caixa de papelão,
instrumentos postos,
traçados com caneta bic,
tinta azul vazada,
que sujou a farda nova da escola
(minha mãe vai brigar!).

No fundo
percebo parede de compensado,
mas que na imaginação
se transforma em uma tela,
onde passam a lua,
estrelas,
cometas,
alienígenas,
asteroides,
restos de satélites,
o Menino do Dedo Verde e
o Pequeno Príncipe.

Chamo a estação de comando,
não digo "Houston, temos um problema aqui"
(algo que no futuro iria aprender),
não preciso de apoio,
prefiro falar "aqui é lindo",
"me sinto feliz",
e desligo.

Estou só,
uma paz me toma,
todos os instrumentos funcionam muito bem,
minha nave não precisa de combustível poluente
(o único que preciso é minha imaginação).

Sinto a brisa marinha
e um certo enjoo,
pela trepidação natural
do movimento que faço.

Escuto um tiro de canhão
(vem ai o desfile de Sete de Setembro):
o Exército está de prontidão.
(É o mundo retornando a mim!)

Agora o sol já está no pique
(quente que só!),
em uma manobra brusca
(talvez para desviar das outras naves),
minha caixa vira no chão.
Nesta hora retorno a realidade,
querendo consertar o estrago,
na grande embalagem de sabão OMO.

Uma voz doce,
calma,
imperial
(da mulher que me protegeu por tantas noites da insônia,
de medo do "bicho papão" embaixo da cama),
me acorda definitivamente:

- Menino sai do pátio e vem almoçar.

Nesta hora
lembro da camisa da escola,
e penso:
"é agora que vou entrar pelo cano!".

04 outubro 2009

Encontro

Rindo muito
encontrei um algo.

Algo que muito
me mudou.

Fez-me refletir.

Fez-me associar
Deus com os homens.

E em vez
de rir,
passei
a sentir
alegria
no meu coração.

19 setembro 2009

Mágico de Oz



Ida de tédio e conflitos,
quando uma hecatombe ocorreu,
morreram muitos de mim
o ser sensível,
bondoso,
crente e
militante.

Em uma tempestade,
parei em um mundo estranho,
cheio de personagens mágicos,
pessoas boas que me indicaram o caminho
(eis que a estrada de tijolos amarelos ficava logo ali),
e segui adiante.

Sem medo de me reencontrar,
procurei o cérebro, coração e coragem.
Procurei um Deus.
No fim havia um idêntico,
que me deu a luz,
que disse que o melhor lugar é onde vivo.

Voltei a mim,
encontrei o prumo,
ressuscitei os mortos
e segui feliz.

03 agosto 2009

Amor



Faz bem,
meu bem,
conversar de amor,
de amor não se limitar.
É o destino...
Nosso destino é amar!
Concorda?
Foi equívoco de quem disse não,
que se perdeu na ilusão,
de não saber amar.

19 julho 2009

Fogueira





Queima meu coração,
arde não de calor,
mas arde como festa de casamento,
e os noivos dançassem uma única valsa.

Queima como a viagem sutil
de duas pessoas na mesma cama,
conversando sobre tudo,
rindo da mesma lua.

Queima o inverno
de neve no Pólo norte,
da solidão
das pessoas dentro de um elevador.

Somos nos,
gravetos em uma ilha deserta,
corpos lançados ao vento,
fagulhas brilhando na noite,
momentâneas figuras,
que no segredo de um corpo,
partido ao meio,
libera
amor.

10 julho 2009

Pegasus



Aqui e agora,
num mito de Pegasus,
nesse galope doido a voar,
vai minha imaginação,
nessa viagem em busca de ti,
a negar tudo que tinha planejado,
a mentir uma pessoa do ontem.

E voa, voa...

Qual a porta que passei, nem sei?

Quero estar ai,
beber seu suco,
de asas brancas,
de mel com limão.

Perder-me na água,
como a sereia na conquista do mar,
mergulhar em sua vida,
e dela fechar a porta
que acabei de passar.

01 junho 2009

Tempo



Parei no tempo.
Consegui,
finalmente consegui!

Foi nesta hora que vi:
as estrelas brilharem mais;
a areia reluzir esse brilho;
o homem pensar na paz;
a mulher querer amor.

Não havia som,
só havia o tom
de bater o coração.

Um resto de ti



Lábios soltos no ar
só para te dizer,
que no deserto
não existe um oásis,
uma pequena flor.
Só um resto de um rio vago,
com margens sem amor,
sem nada...

Olhares tortos,
vesgos,
sem brilho,
incutem uma inocência vil,
de uma imperatriz
de um reino superior...

Não acredito!

Algo que me põe sem segurança,
que me deixa triste:
lábios soltos,
olhos perdidos...

De repente, eis que essa luz brilha.
Algo como uma explosão de um vulcão
(explosão de felicidade).
Algo que me move por dentro.
Deixa-me alegre.
Enche-me de esperança.
Não precisa nem de lábios,
nem de olhares
(jogue-os fora!)...
Seu sorriso me fez isso.

01 maio 2009

Roda gigante



Numa roda gigante
o tempo passa,
ora alta,
ora baixa,
ora tensão,
ora calma.

Vida a rolar sem fim,
vida a correr demais.

A menina que sobe,
não é a mesma que desce
(o tempo é passageiro!).

O importante que ela
gira, gira, gira,
mas sempre volta ao mesmo lugar,
onde começou a alegria!

07 abril 2009

Relógio



Quando o relógio
registrar o momento
de te ver.

E reconhecer
o medo de você.

E imaginar
o que posso fazer
para te dominar
e te vencer...

...Serei um algo mais,
pronto para te amar
(e te ter!).

23 março 2009

Minha


Minha,
minha porque eu quero,
porque gosto...
E se não fosse?
Sem chance,
desejaria ela todinha
(minha).

15 março 2009

Rabisco




Desenhe sua forma,
desenhe logo!

Não quero mais ficar na tua torta,
sem ao menos ser capaz
de entender o seu sabor.

QUERO cores firmes,
sem rabiscos,
sem vacilos...

QUERO te ver!

27 fevereiro 2009

Esperar



Te espero:
inteira,
linda,
viva,
cheia,
intrigante,
rica,
tranquila,
faceira,
humilde,
graciosa...
Mulher!

22 fevereiro 2009

Olhar



Seu olhar
(mil ângulos),
corpo de luz,
cheio de esplendor.

Entontece,
limita-me,
suscita-me
o mais doce amor,
que mora
na esquina
entre o prazer
e o meu ser.

15 fevereiro 2009

Quando a lua for a lua



Quando a lua for a lua
(e seu brilho acender a voz),
voltarei!

Gritarei um fogo eterno,
uma nova luz,
uma história real.

Nada de mentiras,
mortiças,
falsidades...

Mostrarei o meu lado escuro
(buraco negro que nos separa).
Rirei das coisas brandas
(Branca).

Te amarei como nunca,
ficarei aqui te olhando
(olhos negros cheios de brilho).

...Quando a lua for a lua.

05 fevereiro 2009

Mulher



Senhora de mim
induz meu corpo
ao pensamento leve.

Abriga o coração,
sangrado,
molhado de luz.

Traduz as letras da terra,
migra meu olhar,
faz minha festa completa.

Reluz o meu ar,
renova-o...

Minha eterna dona de mim.

25 janeiro 2009

Minas Gerais



São sucessões de verdes folhagens,
mares de esperança,
que rolam em um fogo astral,
simulando uma vida amena e feliz.

Montes verdes,
cheios de alma
(ensino exotérico).
Com um sol claro,
igual ao pensamento.

É ai que quero morar,
rindo da solidão,
mergulhado em um rio de calma
(claro que sim!),
pensando em ti,
retirando todo ouro
dessas Minas Gerais.

22 janeiro 2009

Fim



Quebrou um aroma
de perfume de gozo,
pedindo que eu te deixasse
sem olhar para trás,
sem ver às marcas
impressas em ferro à brasa.

Agora o cheiro é acre,
azedo,
gosto de óleo de rícino,
Emulsão Skott,
bacalhau dormido depois do domingo de Páscoa.

Foi fundo
ao falar do brilho que corria no corpo
e agora não atrai mais,
como um Halley que passou.

Foi um buraco aberto para o Japão,
com direito de ver os amarelos rirem de mim,
e o Monte Fuji a desabar.

Foi passagem comprada para guerra do Vietnam,
sem Rambo e Schwarnegger
para me defender.

Foi o meu pior orgasmo.
Meu pior sonho
(um pesadelo!).

Foi o fim!

20 janeiro 2009

Quimera



Quimera,
Espelho do telho.
Suspeita de ação.

Meu caso,
meu Tejo,
Irrita um milhão!

Olhos suspeito,
de um doce pecado,
de uma doce ilusão...