07 outubro 2009

No pátio (de D. Inês)


Brincadeira de recreio de criança,
em uma caixa de papelão,
instrumentos postos,
traçados com caneta bic,
tinta azul vazada,
que sujou a farda nova da escola
(minha mãe vai brigar!).

No fundo
percebo parede de compensado,
mas que na imaginação
se transforma em uma tela,
onde passam a lua,
estrelas,
cometas,
alienígenas,
asteroides,
restos de satélites,
o Menino do Dedo Verde e
o Pequeno Príncipe.

Chamo a estação de comando,
não digo "Houston, temos um problema aqui"
(algo que no futuro iria aprender),
não preciso de apoio,
prefiro falar "aqui é lindo",
"me sinto feliz",
e desligo.

Estou só,
uma paz me toma,
todos os instrumentos funcionam muito bem,
minha nave não precisa de combustível poluente
(o único que preciso é minha imaginação).

Sinto a brisa marinha
e um certo enjoo,
pela trepidação natural
do movimento que faço.

Escuto um tiro de canhão
(vem ai o desfile de Sete de Setembro):
o Exército está de prontidão.
(É o mundo retornando a mim!)

Agora o sol já está no pique
(quente que só!),
em uma manobra brusca
(talvez para desviar das outras naves),
minha caixa vira no chão.
Nesta hora retorno a realidade,
querendo consertar o estrago,
na grande embalagem de sabão OMO.

Uma voz doce,
calma,
imperial
(da mulher que me protegeu por tantas noites da insônia,
de medo do "bicho papão" embaixo da cama),
me acorda definitivamente:

- Menino sai do pátio e vem almoçar.

Nesta hora
lembro da camisa da escola,
e penso:
"é agora que vou entrar pelo cano!".

04 outubro 2009

Encontro

Rindo muito
encontrei um algo.

Algo que muito
me mudou.

Fez-me refletir.

Fez-me associar
Deus com os homens.

E em vez
de rir,
passei
a sentir
alegria
no meu coração.