01 agosto 2014

Brindados


Nós 
amarras
não 
foram 
hábeis
suficientes 
para 
abduzir 
de 
nós
às
aras
que 
amar
erigiu.

01 maio 2014

Fetiche


Qual exclusiva noite
para fatigar a lascívia.
(Cronometro ligado)
Diana Krall presente
no tom mais gracioso
que a eletrônica permitia.
Cheiro das velas
(muitas velas)
inebriava o ar
de tênue a vaporoso.
Sapato vermelho,
de salto alto,
impunha o tom,
passo a passo,
de chegada
e inicio
da apreensão
(suor na testa ruborizada).
Na visão
a lingerie
mais sublime
(e transparente)
que se possa imaginar,
e que contentava
aquele gosto
encapetado.
Meia luz,
ou luz nenhuma,
que dilatavam as pupilas,
na vontade de ver (muito) mais
que consentido
(ou o que seria desvendado,
daqui a pouco,
pouco a pouco).
De saliva estiada
a voz,
quase nada,
era rouca.
Na face
(batom, sombra, cílios delineados,
e um discreto gliter na pálpebra)
tudo clássico,
muito “Pin Up”.
Com movimentos lentos,
Uma dança foi estabelecida.
Tudo supremo...
Do toque do relógio queria mais
(muito mais!),
queria um ser sobrenatural,
que parasse aquele tempo,

e o fizesse infindo.

01 abril 2014

"Ctrl+C"

Boca na boca,
para não repetir inverdades
das experiências envelhecidas,
caducas,
mal vividas.
Que seja um tempo novo,
das teclas “Ctrl+C”
quebradas.
Fale-me algo
inédito,
como
o sonho da diva,
o medo da noite,
o desejo de servir no vôo,
o temor da gestação,
a ânsia esquecida do corpo.
Agora,
deixar de saborear,
pelo azedume anterior:
não!
Aproveite...
Destrua a agenda,
apague email´s,
exclua perfis no facebook.
O tempo é outro,
eu sou outro:
caráter,
psique,
alma,
coração,
torso.
Sou
uma nova
e verdadeira
miração.

02 março 2014

Transparência


Pela janela,
a luz,
nada contida
por panos
e babados,
esquentou
dois corpos,
que enroscados,
reagiam,
desnudos,
sudoreicos
e energicamente,
a uma
resposta
hormonal.
E revelou,
para todo
arredor,
um
ato,
até então,
improvável
para
aquele
local!

01 março 2014

Viagem


Leva-me
para algum lugar,
muito longe daqui.

Um lugar onde sinta odor,
sem que meu faro sofra com tantos maus perfumes.


Onde o tempo seja cromático,
a despeito da pulsação incolor.

Onde tudo pare,
dentro de tamanha inquietação.

Pode ser na esquina,
na lembrança,
na militância,
na preguiça,
na espera do aeroporto,
na ausculta de cantos melancólicos
ou na torcida dos guerreiros.

Seja no próximo segundo,
no minuto seguinte,
ou dez anos após.

Creia,
acredite,
tenha fé:
eu só não quero ficar aqui.

07 fevereiro 2014

Orfeu da Conceição


Um dos trechos mais bonitos da peça "Orfeu da Conceição" de Vinicius de Moraes, tem inicio quando Eurídice lhe diz "Até, neguinho. Volto num instante". Orfeu tem um mau presságio, e pede à amada que não o deixe. Eurídice responde: "Meu neguinho, que bobagem! É um instantinho só. Volto com a aragem..."E o texto segue adiante assim...
"Orfeu:
Ai, que agonia que você me deu
Meu amor! que impressão, que pesadelo!
Como se eu te estivesse vendo morta
Longe como uma morta...
Eurídice:

Morta eu estou.
Morta de amor, eu estou; morta e enterrada
Com cruz por cima e tudo!
Orfeu (sorrindo):

Namorada!
Vai bem depressa. Deus te leve. Aqui
Ficam os meus restos a esperar por ti
Que dás vida!
(Eurídice atira-lhe um beijo e sai).
Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
E' mais porque te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, - que é que eu sei! essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem - nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! e me dizes essas coisas
Que me dão essa fôrça, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! criatura! quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que êle, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que eu estarei contigo!"
É lindo ver Bethania recitar!!!!

15 janeiro 2014

Tormenta


Calmo, 
agora o mar está!

Na tempestade
jogou peixe para fora,
fez barco virar e
Ninfas andarem.

Tive medo,
mas se eu não estivesse
lá imerso
na escuridão,
não aprenderia
que é a boia
que te faz boiar 
e o nariz para fora,
respirar.

14 dezembro 2013

Dependência...

Sua nudez  
alarga meu encanto 
pelo simplório frugal

e dificulta enjeitar 
o vicio pelas coisas simples.

02 novembro 2013

Que coisa!

Deixo o orgulho de lado,
deito quieto,
pouco humilhado,
infeliz.

Cedeu minha esperança.
Estava elétrico,
(sabe disso!)
desejoso,
urrando de sede,
esfomeado,
faminto,
famélico.

- Mas ainda é tão cedo?
(na noite nada é tarde para nutrir o desejo).
Se havia algo errado, não sei?

Agora discreta,
sussurrou no meu ouvido
(lembra um gemido).

- Bandida!!!
Enganou-me!
Iludiu-me!
Bendita artificiosa,
manhosa,
arteira. 

Sussurra mais uma vez,
e confirma:
-eu quero!

Agora?
Vontade de pular dali correndo.
Escapulir,
esgueirar,
matar-te.

Mas se era justamente o que queria?!
(precisamente!).

Vou espalhar aos sete ventos
que és uma enganadora,
uma burlesca.

Quis matar um desejo!

Por que falou antes

“hoje não”?

01 outubro 2013

Vidente





Coraçãozinho,
espedaçado,
esfarelado,

palpita,
lateja,
titila,
agita:


anda 
pressentindo
que uma coisa boa
vai acontecer!

02 setembro 2013

Comunicação


Cumprindo o praxe universal
de emissor,
receptor 
e meio,
o ritual criado por Eros,
teve inicio no jogo de palavras.
Poucas, sei!
Mas todas curiosas,
indiscretas,
bisbilhoteiras,
do tipo:
Quem? 
Quando? 
Como?
Próprias para despertar o interesse.
Próprias de uma língua oficial
de 280 milhões inquilinos.
Próprias, 
que começaram abrir
o ferrolho
selado,
outrora,
sabe lá por quem? 
Quando? 
Onde?

Na sucessão das horas
(confesso: foram poucas!),
a transmissão racional foi distanciada.
Quem? 
Quando? 
Como?
Ficaram no passado.
Quem? 
Quando? 
Como?
Já tinham as respostas,
que aqui são improprias
apresentar.

Sonoras compreensíveis
de outrora,
passaram a simples percepção.
Gemidos,
murmúrios,
suspiros,
arfados,
hálito.
Sensações
(odor e umidade)
percebidas pelo dedo indicador 
e não mais pelo ouvido médio.

Palavras?!
Para que?
Quem?
Como?
Quando?
São distantes do que Eros
criou.

01 agosto 2013

Estratégia


A definição de outra trajetória
recuperou o rumo,
abalado por embuste,
felonia
e instabilidade.
Bem de mim
que tinha na inocência, 
na crença 
e nos saberes,
minhas maiores qualidades.
Enfim,
tudo recuperado.
Pouco
modificado
sei,
mas
recuperado!

01 março 2012

Tempo



Definir é um desafio,
Interrogue-me e fujo desta quesito,
Não quero ver, inferir ou meditar...
É uma perene agonia!

Nem sempre as três dimensões que fundamentam sua existência contêm sua experiência:
Passado, presente e futuro,
Por si só não o fazem concreto.
(- Se nenhuma das suas partes existe, como pode ele subsistir?)

Quando penoso é lento,
Quando feliz, amável e prazeroso, rápido,
Quase fugaz, às vezes uma ilusão.
(- Como pode ser célere para uns e viscoso para todos?)

Só no plano divino,
Anterior a nossa criação,
Para entendimento.
(- Mas se há um planejamento superior, para que medi-lo então?)

Relativizá-lo será sempre uma tentação.
Alguns marcam com segundos, minutos, dias e primaveras.
Outros com ações:
Amores perdidos, trabalhos concluídos, filhos crescidos.
(Eu, constante emoção!)

A realidade dele só está no pensamento.
Na verdade,
Sua compreensão só é percebida no espaço e movimento,
Intervalo e animação,
Vida e viver.

Concluí-lo, jamais!
As marcas que nele imprimem,
Eternamente o farão dissemelhante.

O fato que é cíclico,
É uma sucessão de inverno, verão, férias e São João.
Um eterno reviver,
Mas sem necessariamente restituir.

Então,
Que flua,
Que se viva nele.
Que seja segundo,
Seja eterno,
Seja individual.
Seja próprio,
Exclusivo,
Irreversível.

O meu é só meu,
Cabe na minha caixinha mágica.
Na minha nave espacial.
(Transforma-me!)

Nele transfiguro,
Modifico,
Experimento.
Sou objeto e
Ação.

E graças a ele,
subsisto.

02 janeiro 2012

Medo


No encontro do inicio da minha vida,
rompantes de altivez
fizeram despertar daquele desvaneio.


Cores alegres, o disparate e a ausência do tino
foram levados para um lugar remoto,
tal que já estive e não intencionava revir
(subsistiria sem ele se me autorizassem!).


Do Éden sucedeu-me a mácula,
da harmonia, o suplício,
da extrema eudaimonia, a barafunda,
do arrebatamento, a ponderação.


E assim permaneci:
inerte,
débil,
recluso
e sucumbido de mim.


Quis trespassar,
abrir a porta trincada com ferrolho anti-candura,
pular da rota da abalroação,
respirar o oxigênio expelido,
rever o inesgotável.


Mas quem arrecada,
lembra reiteradamente o maldito,
como as gotas da tortura chinesa,
pingo a pingo,
diuturna e incessantemente,
do dia da fraternidade Universal 
a última noite do ano
(sem acaso de recreio).


Que infame, vil, ultrapassado,
anárquico e melodramático sentimento.
Levou de mim o que tinha de melhor,
o que mais tinha de ufano, 
claro 
e afinado:
rigorosamente, 
a ausência 
e exiguidade dele.

01 dezembro 2011

Cama



Daqui vejo a lua,
e vejo mais:

vejo seus olhos dizerem sim,
seu corpo deitar na minha cama
(no meu todo!),
seu sonho abastecer minha alma.

É claro, daqui dá para ver muito mais!

Vejo sua boca pedir amor,
seus seios balançarem no ar
(bicos empinados),
e essa sua vontade de gozar.

01 novembro 2011

Gosto



Seu gosto ainda está em minha boca,
doce,
como as coisas boas que me falou.


Mel,
de beber com as estrelas
(atiçou um fogo bom,
mergulhado em prazer,
esquecido por vidas).


Foi saliva
derramada em minha alma.


De pouco não morri,
de tanta água derramada
em minha alma.


De pouco não morria,
do calor que me proporcionava.


Acho que morri!
Mas não ressuscitei,
porque é muito bom
morrer com sua boca
mergulhada em minha alma.