05 outubro 2014

Porta


Talvez não saiba
que a porta que hesita bater
é a mesma
que na face oposta
há outra alma
que espera,
com ânsia,
ofego,
euforia,
resignação,
a outra,
que emancipe,
dê-lhe alforria,
e resgate
o mais arraigado,
seguro e
íntimo
desejo
de possuir
e ser
arrebatado.

01 agosto 2014

Brindados


Nós 
amarras
não 
foram 
hábeis
suficientes 
para 
abduzir 
de 
nós
às
aras
que 
amar
erigiu.

01 maio 2014

Fetiche


Qual exclusiva noite
para fatigar a lascívia.
(Cronometro ligado)
Diana Krall presente
no tom mais gracioso
que a eletrônica permitia.
Cheiro das velas
(muitas velas)
inebriava o ar
de tênue a vaporoso.
Sapato vermelho,
de salto alto,
impunha o tom,
passo a passo,
de chegada
e inicio
da apreensão
(suor na testa ruborizada).
Na visão
a lingerie
mais sublime
(e transparente)
que se possa imaginar,
e que contentava
aquele gosto
encapetado.
Meia luz,
ou luz nenhuma,
que dilatavam as pupilas,
na vontade de ver (muito) mais
que consentido
(ou o que seria desvendado,
daqui a pouco,
pouco a pouco).
De saliva estiada
a voz,
quase nada,
era rouca.
Na face
(batom, sombra, cílios delineados,
e um discreto gliter na pálpebra)
tudo clássico,
muito “Pin Up”.
Com movimentos lentos,
Uma dança foi estabelecida.
Tudo supremo...
Do toque do relógio queria mais
(muito mais!),
queria um ser sobrenatural,
que parasse aquele tempo,

e o fizesse infindo.

01 abril 2014

"Ctrl+C"

Boca na boca,
para não repetir inverdades
das experiências envelhecidas,
caducas,
mal vividas.
Que seja um tempo novo,
das teclas “Ctrl+C”
quebradas.
Fale-me algo
inédito,
como
o sonho da diva,
o medo da noite,
o desejo de servir no vôo,
o temor da gestação,
a ânsia esquecida do corpo.
Agora,
deixar de saborear,
pelo azedume anterior:
não!
Aproveite...
Destrua a agenda,
apague email´s,
exclua perfis no facebook.
O tempo é outro,
eu sou outro:
caráter,
psique,
alma,
coração,
torso.
Sou
uma nova
e verdadeira
miração.

02 março 2014

Transparência


Pela janela,
a luz,
nada contida
por panos
e babados,
esquentou
dois corpos,
que enroscados,
reagiam,
desnudos,
sudoreicos
e energicamente,
a uma
resposta
hormonal.
E revelou,
para todo
arredor,
um
ato,
até então,
improvável
para
aquele
local!

01 março 2014

Viagem


Leva-me
para algum lugar,
muito longe daqui.

Um lugar onde sinta odor,
sem que meu faro sofra com tantos maus perfumes.


Onde o tempo seja cromático,
a despeito da pulsação incolor.

Onde tudo pare,
dentro de tamanha inquietação.

Pode ser na esquina,
na lembrança,
na militância,
na preguiça,
na espera do aeroporto,
na ausculta de cantos melancólicos
ou na torcida dos guerreiros.

Seja no próximo segundo,
no minuto seguinte,
ou dez anos após.

Creia,
acredite,
tenha fé:
eu só não quero ficar aqui.

07 fevereiro 2014

Orfeu da Conceição


Um dos trechos mais bonitos da peça "Orfeu da Conceição" de Vinicius de Moraes, tem inicio quando Eurídice lhe diz "Até, neguinho. Volto num instante". Orfeu tem um mau presságio, e pede à amada que não o deixe. Eurídice responde: "Meu neguinho, que bobagem! É um instantinho só. Volto com a aragem..."E o texto segue adiante assim...
"Orfeu:
Ai, que agonia que você me deu
Meu amor! que impressão, que pesadelo!
Como se eu te estivesse vendo morta
Longe como uma morta...
Eurídice:

Morta eu estou.
Morta de amor, eu estou; morta e enterrada
Com cruz por cima e tudo!
Orfeu (sorrindo):

Namorada!
Vai bem depressa. Deus te leve. Aqui
Ficam os meus restos a esperar por ti
Que dás vida!
(Eurídice atira-lhe um beijo e sai).
Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
E' mais porque te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa? cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto, - que é que eu sei! essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, Orfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem - nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa charla antiga
Esse contentamento, essa harmonia
Esse corpo! e me dizes essas coisas
Que me dão essa fôrça, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah! criatura! quem
Poderia pensar que Orfeu: Orfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres - que êle, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que eu estarei contigo!"
É lindo ver Bethania recitar!!!!

15 janeiro 2014

Tormenta


Calmo, 
agora o mar está!

Na tempestade
jogou peixe para fora,
fez barco virar e
Ninfas andarem.

Tive medo,
mas se eu não estivesse
lá imerso
na escuridão,
não aprenderia
que é a boia
que te faz boiar 
e o nariz para fora,
respirar.